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Produção
rural

Por João Paulo de Brito

A seca e o meio agrícola

As mudanças climáticas presentes na época da seca têm sido responsáveis por modificar os processos produtivos na agricultura. Os impactos gerados neste período tem feito com que proprietários rurais tenham que entender de que forma a produção é afetada, para que assim possam se adaptar a essas alterações.

Em relação ao plantio e a colheita de hortaliças, a atividade tem sofrido variações de forma direta, pois o aumento da temperatura associado à falta de água no solo interferem no ciclo necessário para que os alimentos sejam cultivados de maneira mais eficaz. Esse fenômeno resulta desde a perda de qualidade dos produtos até a não comercialização deles.

Ausência de mercadorias

Cleides Veloso Teixeira Reis, 51 anos, trabalha com o meio rural há 23 anos. Ela é proprietária de uma chácara, em Brazlândia-DF, a qual apresenta 2 hectares de terreno destinados ao cultivo de hortaliças. Esse espaço é utilizado como forma de gerar renda e sustentar a família da produtora agrícola.

Os alimentos cultivados no local são expostos e vendidos a cada 15 dias na banca Sabor da Terra, que Cleides Veloso possui na Feira do Produtor, em Vicente Pires-DF. A comerciante destaca que devido a constante e diversificada procura de mercadorias, é necessário que ela produza diversos alimentos. “A gente trabalha com um ‘mix’, porque quanto mais a feira for variada, mais o cliente fica satisfeito.”

No entanto, a banca da feirante apresenta espaços vazios por falta de hortaliças, como a alface americana. Ela atribui a ausência desses produtos ao aumento da temperatura e à escassez de água durante essa época. Por isso, a produtora precisa fazer adaptações no processo de plantio, como a cobertura do solo, a fim de minimizar os efeitos causados no cultivo.

No slide show abaixo é mostrado o processo de produção e de venda da agricultora Veloso, para conferir as legendas passe o mouse por cima da foto.

Produção limitada

Os alimentos orgânicos consumidos em 24 escolas de São Sebastião-DF são oferecidos por 22 membros da  Associação de Agricultores Familiares da Eco Comunidade do Assentamento 15 de agosto (AFECA). A organização conta com a participação de 35 famílias de pequenos produtores rurais . O território utilizado para cultivar as mercadorias corresponde a 474 hectares.

A presidenta da associação Michelly Slany Ornelas, 35 anos, destaca a importância que  a cooperativa tem em relação à comunidade agrária e como os agricultores trabalham de maneira planejada para que consigam vender os produtos em conjunto. “A AFECA faz a comercialização dos alimentos cultivados. A gente pesquisa editais e chamamentos públicos para participar. Quando somos contemplados, organizamos a produção entre os associados. Além disso, fazemos o intermédio entre produtores e fornecedores de adubo, mudas e sementes”, explica a presidenta.

A líder da associação considera que a falta de água é um problema recorrente no local de produção e que não se restringe a apenas um período do ano. “Nossa dificuldade em relação a isso é constante, não somente na época da estiagem”, destaca Michelly Ornelas. Os agricultores, embora queiram plantar em maior quantidade, optam por cultivar apenas a quantia que pode ser produzida com a água disponível. ”Todo o cultivo é feito por meio de poço artesiano, então cada associado produz de acordo com a capacidade que é possível”, explica a presidente da associação.  

Por fim, ela revela que o aparecimento de insetos, bactérias, fungos e ervas daninhas típicas dessa época é o principal fator de preocupação dos proprietários rurais do assentamento. “Nosso principal problema é com o surgimento de pragas. Temos dificuldades, pois elas atacam a produção neste período de longa seca”, declarou. 

 

A produtora Cleides Veloso conta, na entrevista, quais são as adaptações necessárias durante o período.

A seca e o meio agrícola
Ausência de mercadorias
Produção limitada

 Influência da temperatura

O engenheiro ambiental, pesquisador da Embrapa Hortaliças e doutor em solos e nutrição de plantas Carlos Eduardo Pacheco explica que a elevação dos índices de calor afeta o período chuvoso, o que também resulta em modificações climáticas na temporada de estiagem. “O aumento da temperatura gera uma série de mudanças, incluindo na precipitação. Porém, nesse caso há uma piora da distribuição de chuvas. É como quando falamos, por exemplo, que choveu em poucos dias o que era esperado para um mês. Isso significa que em outra parte do ano vai haver escassez”.

Segundo o pesquisador da Embrapa Hortaliças, é possível que esse processo impacte na qualidade dos produtos a ponto da produção não ser completada. “Existem determinados limites de temperatura que uma planta consegue suportar. Ao ultrapassar essa medida, que é por volta de 30ºC nas mais resistentes, durante o desenvolvimento, a tendência é que não haja produtividade”, destaca o engenheiro ambiental.

Carlos Eduardo Pacheco enfatiza que nesse mecanismo a importância da água vai além de estar presente na composição estrutural das hortaliças. “A substância é responsável pela condução dos nutrientes, na regulação térmica, por permitir que os vegetais se adaptem a condições de temperatura que possam ser ocasionadas. A relevância dela corresponde a todas as etapas”.

O especialista em nutrição de plantas defende que o armazenamento hídrico seja adotado como uma das soluções de redistribuição de recursos durante o período de estiagem. “É importante que aconteça essa acumulação de água em bacias hidrográficas para que ela seja utilizada em diversas finalidades. Então, a construção de unidades de contenção é o mais recomendável”.

Além disso, o pesquisador detalha a existência de outros métodos, voltados a preservação do solo, que reduzem os efeitos da seca na produção agrícola. “Há o plantio direto, que é um procedimento conservacionista, no qual a superfície de terra não é removida. Nessa técnica, uma cobertura viva ou morta de resíduos vegetais é mantida durante todo o ciclo da produção. E também existe a rotação de culturas, que  consiste na alternância de alimentos cultivados”.

Influência da temperatura
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